terça-feira, 9 de agosto de 2005

A mãe de todas as invejas


Todos nós gostaríamos de ser perfeitos. Ter os melhores amigos, a melhor casa, o melhor carro, usufruir das melhores diversões, passar férias na ilha perfeita, ter o emprego perfeito... mas se calhar a vida não é assim. Se calhar isso não é vida. Isso não é a verdadeira vida. Será?
Invejo quem consegue levantar-se às 5h30mn para praticar 2h de desporto; quem consegue ter sempre uma casa impecavelmente limpa, sem um grão de pó ou um livro fora do sítio; quem consegue preparar sempre refeições saudáveis, sem fritos, gelados ou sal a mais, mesmo depois de ter trabalhado 10 horas por dia; invejo aqueles que conseguem, mesmo depois de uma semana de trabalho extenuante, arranjar tempo para irem praticar surf ou nadar num rio; ranjo os dentes por aqueles que, quando querem sair à noite, não precisam de um esforço de memória para saberem quem convidar; ou quando decidem fazer uma festa de aniversário e sabem que todos virão, sem desculpas. Ou ainda aqueles filhos da mãe que se admiram constantemente ao espelho e que se pavoneiam na praia porque se sentem orgulhosos do corpo que têm, sem gordura ou estrias ou celulite. Apetece-me esganá-los porque quando querem comprar uma casa só têm de abrir o mapa e, de olhos fechados, atirar o indicador e dizer: "Aqui pode ser, não achas, querida?"
Sinto inveja daqueles que salvam vidas, que arranjam tempo para dar muito de si aos outros. Daqueles que abdicam do seu tempo livre para fazer sorrir outros, enquanto alguns ficam sentados em frente ao computador a escrever disparates. Dos que estudam, evoluem, se organizam para que tudo saia de acordo com os seus planos. Dos que se atiram para a frente sem estarem sistematicamente a olharem para trás. De todos os que amam incondicionalmente, que sabem ter paciência, sem terem vontade de lançar ninguém pela janela de cada vez que são irritados. Dos que têm uma sabedoria natural, em vez de chico-espertismo. Dos que que se esquecem de si mesmos para se lembrarem dos outros.
A inveja é a arma dos fracassados: permite-nos disparar em todas as direcções quando estamos irritados e serve-nos de escudo para recuarmos até o buraco mais próximo esperando que a frustração passe.
É também aquilo que nos impede de perceber que outros nos invejam por coisas boas que temos e de que já não nos apercebemos porque passamos demasiado tempo a olhar para o que os outros têm. No fundo, invejamos o que os outros tomam por garantido, e não garantimos o que os outros invejam. Ironia, não?..