quinta-feira, 28 de julho de 2005

A diferença entre a morte e a vida

Nesta manhã uma das gatinhas salvas há meia dúzia de dias, a Ronrom, morreu-me nos braços. Antes de dar o último suspiro, agarrou-me na mão e olhou-me nos olhos. Estas coisas não se esquecem e por isso dedico-lhe este post.
Nestas pequeninas coisas se nota a ténue linha que separa a vida da morte. Tanto vivemos como morremos assim, de um momento para o outro. A vida tem tanto de bela e selvagem, como de frágil e assustador. Num momento é vibrante, noutro esvai-se como a areia por entre os dedos, num suspiro de gatinha. Às vezes fazem-se milagres, outras vezes é impossível. Agora há que cuidar da sua maninha, a Trincas, e esperar que com ela as coisas corram melhor. Resta-me a consolação de saber que pelo menos morreu rodeada de amor e não no meio de uma mata queimada e estéril. Talvez seja essa a diferença entre a verdadeira vida e a morte.

sábado, 23 de julho de 2005

As gatinhas-pinha



Na passada sexta feira, quando voltava da escola, passando de carro por Folgosa, mesmo entre duas enormes áreas ardidas, tive de desviar-me daquilo que julguei serem duas pequenas pinhas para evitar derrapar, como já me aconteceu uma vez. Quando acabo de o fazer, reparo pelo retrovisor que as pinhas se mexeram, o que não é suposto acontecer, a não ser que se tratasse de pinhas assombradas, coisa ainda mais rara. Já com o coração aos pulos pelo espanto, páro o carro uns metros mais à frente e saí para ver as pinhas moventes quando verifico que eram duas gatinhas farruscas, com um mês de idade, aninhadinhas mesmo no meio da estrada. Devagarinho para não as assustar, aproximei-me e uma delas já mal se mexia, deixando-se apanhar e aninhar na palma da minha mão. Depois de a colocar no banco do carro, voltei para apanhar a outra, sempre na esperança que não passasse nenhum louco, como há muitos por essas estradas, disposto a passar-lhe por cima. A gatinha escondera-se debaixo de uma pedra e como naquela zona tudo era preto e queimado, demorei algum tempo até a descobrir, com o rabito de fora a tremer. Bom, lá trouxe as gatinhas-pinha no carro, cobertas com um pano para as sossegar e agora estão a salvo. Cabem na palma da mão, hão-de pesar cerca de 100 gramas cada uma e só têm pele e osso, mas um apetite desmesurado compensa essa magreza. Hoje já brincaram e até já deixam aproximar as pessoas porque, sendo selvagens, nunca viram gente pela frente. Uma delas, a farrusca 2, até já deixou fazer festinhas na barriga e fez montes de ronroms!
Acho que se salvarão, apesar de serem muito pequeninas e frágeis, mas fico triste por saber que neste preciso momento há milhares de animais por esse país fora abandonados ou entregues à sua sorte por falta de uma política de educação cívica e ambiental. Existem porque as pessoas não esterilizam os seus animais ou, pior ainda, os abandonam à fome, aos maus tratos e ao diabo! Independentemente da concepção religiosa, científica ou filosófica que possamos ter dos animais, uma coisa é certa: os princípios éticos são os mesmos - não devemos inflingir sofrimento a outra criatura viva! E isso implica cuidar, tratar e não abandonar ou submeter qualquer animal a sofrimento desnecessário!
Ter um animal de estimação implica ter cuidados, vacinações, alimentação, muito amor e respeito e também esterilização, porque quando surgem as crias, muitas vezes são postas na rua, dentro de sacos, ou então, como fazem em Lisboa, atiradas da ponte para o Tejo para morrerem afogadas. Sim, este é mesmo um país terceiro-mundista.
Respeitar os animais é respeitar a vida e respeitar a vida é ser Humano.
Aconselho a verem esta apresentação e já agora a darem uma vista de olhos por este sítio. Leiam, divulguem e ajudem a tornar este mundo um pouco mais humano! E já agora boas férias para todos!

segunda-feira, 11 de julho de 2005

O envelhecimento

Agora que o ritmo frenético das aulas terminou e sempre é possível respirar um pouco, pude dar-me ao luxo de tornar a observar o mundo e a mim mesma e fiquei em estado de choque quando me apercebi da quantidade de cabelos brancos que quer eu, quer o meu mais que tudo adquirimos nestes últimos meses. Subitamente apareceram uma série de rugas, de sinais de envelhecimento de que não nos apercebemos e que nos gritam aos ouvidos que o tempo passa e não perdoa.
Já sei que "o que importa é o espírito jovem" mas que me perdoem os optimistas, às vezes não há pachorra para tanto idealismo. A verdade é que envelhecemos a cada inspiração que damos: o oxigénio que respiramos e que nos mantém vivos o suficiente para estarmos a escrever patranhas num qualquer blogue é o mesmo que nos oxida por dentro e nos faz perder vitalidade.
Mas o que mói não é necessariamente o exterior claramente a modificar-se: é a sensação asfixiante de que o tempo voa, de que ainda ontem tinhamos todos 16 anos e que a vida era fixe, tinhamos tudo à nossa frente, podiamos fazer tudo, ser tudo. E agora, temos tanto para trás de nós, podiamos ter sido tanto, ter sido tudo..
Ainda há poucos dias falava de Erik Erikson e da divisão que este psicólogo fez do desenvolvimento psicossocial do indivíduo. Segundo Erikson, todos nós atravessamos, desde o nascimento, oito etapas de desenvolvimento, sendo a penúltima dos 30 aos 60 anos (aproximadamente). Assim, apercebi-me de que aos 33 anos estou na penúltima idade e que só me falta ultrapassar uma etapa, a do idoso, já que estou na do adulto. E, por muito disparatado que isto seja, assustei-me. Já vivi metade da minha existência e com a claríssima sensação de que ainda não comecei a fazer nada de realmente relevante. Mas o que é relevante na vida de uma pessoa? Fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore, como dizem por aí?
Se fosse assim tão simples, a vida poderia acabar aos 20 para os mais precoces e ficar para sempre incompleta para os analfabetos ou os inférteis. Mas o que faz de uma vida algo digno de ser vivido? O que deixamos de imortal? O que é realmente a imortalidade?...
Os menos complicados têm filhos, sempre é uma forma de algo de si lhes sobreviver, os seus genes. Outros redigem literatura fabulosa que os eterniza: Eça de Queirós, Cervantes, Camões. Outros mudam a nossa existência pelas vacinas ou as inovações médicas: Egas Moniz, Pasteur, Curie. Há também aqueles que dão o exemplo de humanidade pela qualidade ética das suas acções/reivindicações: Gandhi, Luther King, Mandela, Aristides de Sousa Mendes. E nós, reles mortais vulgares cuja única preocupação passa muitas vezes apenas por saber se estará bom tempo para irmos para a praia ou se o Benfica contratará novos jogadores?Pfff...
Sinceramente, o melhor era que cada um de nós se preocupasse em deixar uma marca que justificasse neste mundo o oxigénio e os víveres consumidos. Ainda não descobri que marca quero deixar mas continuo à procura. Só espero encontrar antes de se me esgotar o tempo.

"Envergonha-te de morreres sem teres dado uma vitória à Humanidade"