quinta-feira, 28 de abril de 2005

O País das maravilhas

Todos tivemos a oportunidade de assistir pela televisão à libertação de três criminosos, acusados da morte violenta de um agente da polícia judiciária, simplesmente porque prescreveu o prazo para se re-analisar o processo pelo recurso interposto pela defesa. Indivíduos com culpabilidade comprovada, com pesadas penas atribuídas, acabaram por sair em liberdade porque o sistema penal português não teve tempo ou oportunidade de analisar o caso. E assim prescreve a culpa das pessoas, ficando todo um processo arquivado, tal como a vida de uma pessoa.
Mas que é isto?
Que país é este onde as pessoas são tratadas abaixo de lixo? Onde os agentes da autoridade não têm segurança a ponto de recearem entrar em bairros sociais degradados, para onde emigrantes ilegais e pessoas com baixo estatuto social são atiradas como entulho de uma sociedade que as não quer ver?
Sinceramente, não é este o país que desejo para os meus filhos. Um país onde criminosos saem em liberdade porque alguém se esqueceu de os julgar, onde dirigentes futebolísticos continuam a fazer o que querem porque a justiça deixa cair no vazio acusações de fraude, onde o sentimento de impunidade paira no ar, onde o crime, DEFINITIVAMENTE, compensa.
Tolos somos nós, os honestos, que pagamos impostos, que cumprimos limites de velocidade nas estradas porque sabemos estar a respeitar o próximo, que não sujamos as ruas com o lixo que nos pesa nos bolsos, que exigimos melhor saúde e educação, que olhamos com tristeza e muita inveja para países a sério, como a Finlândia, onde os alunos são inteligentes e motivados porque também têm professores bem pagos, com emprego estável e boas condições de trabalho. Onde as mães podem cuidar dos seus filhos com longas e tranquilas licenças de maternidade, onde os vêm dar os primeiros passos e dizer as primeiras palavras.
Aqui?
Aqui nem a educação é valorizada, nem a maternidade. Aqui despejamos os filhos em infantários ranhosos e caros, corremos para o emprego sempre com o coração nas mãos e quando regressamos à noite, já só queremos uma cama, sem tempo para os afectos.
Este é um país de merda.
Desde que o povo tenha novelas 24h por dia, futebol todas as noites e quintas das bestialidades recheadas de aventuras acéfalas, fica todo contente. E assim decorrem os dias placidamente no país das maravilhas!

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