sexta-feira, 20 de abril de 2007

O negócio da saúde

Agora que a comunicação social nos publicitou, quase de modo exaustivo e quiçá, muito bem pago, a inauguração do novo hospital privado do grupo económico Espírito Santo, há questões que me parecem pertinentes:
- Num país, onde por alegadas razões económicas, se fecham postos de atendimento público, negando o acesso a milhares de idosos e não idosos a cuidados básicos de saúde, remetendo-os cada vez mais para o isolamento, não parecerá imoral acalentar projectos desta envergadura, que só nos lembram o cada vez maior fosso entre a população carenciada e os mais socialmente favorecidos?
- Sem cair numa lógica de "coitadinhos dos pobres" ou "sacanas dos ricos" em que muitos extremistas de esquerda, principalmente os comunistas, caem demasiado frequentemente, não estaremos a criar "favelas" por detrás dos "brilhantes edifícios" que enganosamente nos atiram com a ideia de progresso?
- Haverá, efectivamente, progresso sem que todas as pessoas tenham acesso aos mesmos direitos?
Não defendo a ideia de uma governação à Robin dos Bosques, até porque tenho perfeita noção de que há muito pobre que nunca fez nada por si abaixo e prefere viver do rendimento mínimo, recusando trabalho e metendo baixas fraudulentas. Também sei que, no reverso da medalha, há gente com rendimentos que mereceu, porque lutou para os conquistar.
Mas não é destes que falo.
Falo de gente que, com protecção do poder político, constrói impérios económicos, constituindo o verdadeiro poder governativo neste país. Cada vez mais se privatizará o que deveria ser o pilar universal de uma sociedade: saúde e educação. Quem tem dinheiro ou conhecimentos, poderá frequentar hospitais como este, enquanto pessoas sem estes factores, ficarão à mercê do SNS, arriscando-se a morrer numa lista de espera. O seu grande pecado foi não terem conhecimentos ou dinheiro. Poderá haver gente que não está a ter tratamentos de quimioterapia porque as máquinas avariam e não há dinheiro para as consertar. Gente que tem de desembolsar milhares de euros em hospitais privados para assegurar que continua viva. Mas os médicos que as operam nos privados também trabalham no público. Por que razão são mais céleres nos primeiros e não nos segundos?..
Quem tem dinheiro pode colocar os seus filhos em boas escolas privadas, pagar os estudos num país estrangeiro, perpetuar o fosso social. Ou então, servir-se da sua posição política para concluir licenciaturas, enquanto vem para a comunicação social exigir rigor aos portugueses.
Quem disse que, à luz da Constituição, somos todos iguais?

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