segunda-feira, 11 de julho de 2005

O envelhecimento

Agora que o ritmo frenético das aulas terminou e sempre é possível respirar um pouco, pude dar-me ao luxo de tornar a observar o mundo e a mim mesma e fiquei em estado de choque quando me apercebi da quantidade de cabelos brancos que quer eu, quer o meu mais que tudo adquirimos nestes últimos meses. Subitamente apareceram uma série de rugas, de sinais de envelhecimento de que não nos apercebemos e que nos gritam aos ouvidos que o tempo passa e não perdoa.
Já sei que "o que importa é o espírito jovem" mas que me perdoem os optimistas, às vezes não há pachorra para tanto idealismo. A verdade é que envelhecemos a cada inspiração que damos: o oxigénio que respiramos e que nos mantém vivos o suficiente para estarmos a escrever patranhas num qualquer blogue é o mesmo que nos oxida por dentro e nos faz perder vitalidade.
Mas o que mói não é necessariamente o exterior claramente a modificar-se: é a sensação asfixiante de que o tempo voa, de que ainda ontem tinhamos todos 16 anos e que a vida era fixe, tinhamos tudo à nossa frente, podiamos fazer tudo, ser tudo. E agora, temos tanto para trás de nós, podiamos ter sido tanto, ter sido tudo..
Ainda há poucos dias falava de Erik Erikson e da divisão que este psicólogo fez do desenvolvimento psicossocial do indivíduo. Segundo Erikson, todos nós atravessamos, desde o nascimento, oito etapas de desenvolvimento, sendo a penúltima dos 30 aos 60 anos (aproximadamente). Assim, apercebi-me de que aos 33 anos estou na penúltima idade e que só me falta ultrapassar uma etapa, a do idoso, já que estou na do adulto. E, por muito disparatado que isto seja, assustei-me. Já vivi metade da minha existência e com a claríssima sensação de que ainda não comecei a fazer nada de realmente relevante. Mas o que é relevante na vida de uma pessoa? Fazer um filho, escrever um livro e plantar uma árvore, como dizem por aí?
Se fosse assim tão simples, a vida poderia acabar aos 20 para os mais precoces e ficar para sempre incompleta para os analfabetos ou os inférteis. Mas o que faz de uma vida algo digno de ser vivido? O que deixamos de imortal? O que é realmente a imortalidade?...
Os menos complicados têm filhos, sempre é uma forma de algo de si lhes sobreviver, os seus genes. Outros redigem literatura fabulosa que os eterniza: Eça de Queirós, Cervantes, Camões. Outros mudam a nossa existência pelas vacinas ou as inovações médicas: Egas Moniz, Pasteur, Curie. Há também aqueles que dão o exemplo de humanidade pela qualidade ética das suas acções/reivindicações: Gandhi, Luther King, Mandela, Aristides de Sousa Mendes. E nós, reles mortais vulgares cuja única preocupação passa muitas vezes apenas por saber se estará bom tempo para irmos para a praia ou se o Benfica contratará novos jogadores?Pfff...
Sinceramente, o melhor era que cada um de nós se preocupasse em deixar uma marca que justificasse neste mundo o oxigénio e os víveres consumidos. Ainda não descobri que marca quero deixar mas continuo à procura. Só espero encontrar antes de se me esgotar o tempo.

"Envergonha-te de morreres sem teres dado uma vitória à Humanidade"

1 comentário:

Anónimo disse...

Quantas vezes eu não pensei nisso... É verdade que tenho apenas 17 anos, mas sinto-me como s tivesse andado a pastar durante os 17 anos em que vivi... Passei para o 12º ano e sinto-me sufocada: aproxima-se a altura de tomar uma das maiores decisões da minha vida: que curso seguir... O pior é que eu ainda nem faço ideia...Queria seguir algo k m realizasse, k eu gostasse de fazer, k um dia m deixasse fazer algo pela humanidade, m no país em k vivemos...quase impossível. No país em k vivemos é um deus me acuda, tentar tirar um curso com saída com altas médias para ter uma hipotese ínfima d vir um dia a arranjar emprego. E enfim, provavelment, daki a 5 anos estarei eu a varrer ruas duma cidade qualquer, de canudo na mão e a pensar no k eu poderia ter feito pela humanidad...bem, sp m restará ter uma carrada d filhos...