Até há poucos anos, os diabéticos tinham de pagar do seu bolso as indispensáveis seringas para injectarem em si mesmos a insulina que os mantinha vivos, enquanto os toxicodependentes as tinham de graça. Um diabético pode optar por o não ser? E um toxicodependente? Não escolheu ser estúpido? Compreende-se isto?
Começámos a entrar numa onda de desculpabilização destes indivíduos: são doentes, são coitados, são vítimas. E todos aqueles que por eles são assaltados diariamente para conseguirem o dinheiro para a dose? Ou picados pelas suas seringas infectadas? E que dizer dos que vêem as suas famílias destroçadas pelo comportamento destes dejectos humanos? Seremos seus algozes porque nos recusamos a ser vítimas?
Fecham-se maternidades porque ser pai/mãe num país como este é um luxo. Um conselho aos aspirantes a terem um filho: tornem-se toxicodependentes, há mais vantagens. Um conselho aos reformados e idosos deste país: se quiserem ter acesso aos cuidados básicos de saúde que distinguem um país evoluído de um terceiro-mundista, piquem-se, assaltem o pessoal lá da junta e, mais tarde ou mais cedo, têm direito a assistência médica e à piedade das autoridades. Porque o que está a dar é isso mesmo: ser um nada, um maltrapilho, um lixo social, importunar os outros nos semáforos, mendigar, assaltar e moer. Pois, afinal, são vítimas de uma sociedade opressora, que, injustamente, gostaria de os ver produtivos e úteis, justificando o oxigénio gasto e os recursos dispendidos.
2 comentários:
CLAP! CLAP! CLAP!
É claro que enquanto não estiverem assegurados os mínimos apoios do Estado a todas as situações que realmente merecem se deveriam deixar para segundo plano todas as outras. Mas, os nossos políticos confundem o politicamente correcto com o politicamente coerente. É pena!
Parabéns pelo texto.
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