quinta-feira, 8 de março de 2007

Telelixo

Em muitos estabelecimentos comerciais, existem agora televisões para entreterem os clientes enquanto tomam as suas refeições ou esperam pela sua vez de serem atendidos. Como só dispõem dos quatro canais portugueses, a espera ou a deglutição do almoço/jantar tornam-se um verdadeiro tormento de revirar os olhos ao mais paciente. Se for à hora do almoço, gramo com as manhãs da SIC (?) e com o seu estimulante painel de convidados: videntes, pseudo-actores e outras maravilhas da engenharia intelectual. Discutem-se as previsões para a semana, de acordo com os astros, o glamure do jetessete português (nem sabia que tinhamos disso..), as coscuvilhices da excitante vida social das caras conhecidas.
Se for o meu dia de sorte, alguém pede para mudar para as manhãs da RTP1 e aí a qualidade sobe consideravelmente: ranchecos folclóricos, avozinhas rodeadas dos seus netinhos ranhosos, que tiram macacos do nariz em directo, prodígios precoces, cantoras (?!) que vêm martelar os tímpanos do pessoal com os habituais trejeitos fadistas no final de cada frase que se esforçaram meses por conseguir decorar e a habitual boa disposição de apresentadores que parecem parados num eterno natal dos hospitais, meloso, betadínico e paternalista.
Se for o meu dia de azar, alguém vira para a TVI e eu sinto vontade de sair sem pagar, mesmo que isso me acarrete consequências. É chocante, mau e propício à bulimia.
Nunca compreendi porque ninguém vê o canal 2. Dos 4 canais que pululam os meus pesadelos, ainda é o que tem os telejornais mais sérios, curtos e objectivos, sem as pseudo-reportagens da TVI, onde todos ficamos a saber o que o sr. Joaquim de Alguidar de Baixo está muito feliz porque colheu 1 abóbora de 20kg; ou o jornal da SIC (nome perfeito), onde, em directo, se descobre que na freguesia de Alguidar de Cima, a D. Clotilde julga ter visto um oveni, ou uma espécie de travessa voadora. Enfadonho, amador, demagógico, pobre.
Como tenho televisão por cabo (cara e má, mas é o único operador a trabalhar nos subúrbios onde moro), ainda posso escapar a esta chacina de mau gosto. Sempre que posso, escapo para a Euronews, onde tenho informação de qualidade, ainda por cima, de coisas que não vejo nos noticiários portugueses, porque estão demasiado ocupados a transmitir as soleníssimas conferências de imprensa dos acéfalos treinadores de futebol e dos seus não menos dotados jogadores.
País de bosta, televisão de caca. Mas é conveniente que assim continue, porque enquanto o povo anda distraído com a bola e a floribella, babando-se perante o ecrã, não pensa na miséria económica para a qual caminha ou em que já está. Porque da miséria intelectual já não se livra.

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