segunda-feira, 26 de março de 2007

Vergonha Nacional

http://jn.sapo.pt/2007/03/26/ultima/Espectadores_da_RTP_elegem_ditad.html

Salazar eleito o maior português. Acima de Camões, acima de Sousa Mendes, que salvou milhares de vidas, acima de Pombal, arquitecto de uma capital moderna e de um país mais evoluído pela expulsão dessas sanguessugas de almas que eram os jesuítas, acima de tantos portugueses que muito fizeram pelo país. Salazar, que mandou torturar, que nos atirou para a cauda da Europa com a sua beatitude enjoativa, que recusou o plano Marshall, capaz de nos ajudar economicamente, que caminhou lado a lado com outro sacana como ele, Franco. Salazar, que cultivou a obscuridade, o medo, Fátima, o Tarrafal, a Igreja.
Das duas uma: ou os portugueses têm mesmo muito má memória, ou então são ainda mais profundamente estúpidos do que eu julgava.
Cada vez me faz mais sentido dizer que sou europeia e não portuguesa. Porque os portugueses cada vez mais me metem nojo.

9 comentários:

Anónimo disse...

Expulsar Jesuítas ou expulsar opositores... Uns à cacetada, outros ao arrancar unhas dos pés... Bom exemplo. Gostei. É exactamente este tipo de comentários que, em arco, se auto-legitimam.

Anónimo disse...

Este Jorge Dias é daqueles que tem uma democracia à la carte: vale tudo. Para estes "democratas", a democracia consiste no total relativismo; tudo é admissível em nome da vontade do povo. São os mesmos que achamque o terrorismo é moralmente bom, mesmo que não o seja. São os mesmos que acham que viver em democracia só implica direitos, mas não implica deveres. E portanto, expulsar jesuítas ou combater terroristas constituem a negação da democracia.
Em Cuba também há democratas desss.

mcp disse...

Retiro o que disse: o Marquês não chegou a fazer o trabalho todo. Ainda restam muitos velhos do restelo, quiçá frustrados pelas saudades do ballet rose, pela falta de rapazinhos nos confessionários, castrados intelectualmente pela liberdade de expressão que contra eles se volta. Precisamente os que "elogiei" no meu post. Seja como for, "em arco", são eles que legitimam tudo que disse.

Anónimo disse...

o problema é que esta eleição era pateta e desnecessária. veio reforçar ideias estúpidas de retorno a dias perfeitos (???). porque é que não se deixou o gajo de fora? na alemanha hitler ficou de fora.
mas o que me espanta é que existam pessoas supostamente inteligentes que tenham acreditado, acompanhado e ficado desiludidas com o programa. Maria Elisa à cabeça da lista. Compara o contributo de poetas com políticos para a portugalidade? mas o que é isso de portugalidade? Só uma coisa: a língua, e aí a competição deveria ter ficado reduzida a esritores e poetas. Por mim pode ganhar Camões, se os nacionalisats gostam mais dele... ou o Pessoa... mas no próximo século será Herberto Helder a referência da escrita em português...

Anónimo disse...

Durmam descansados os anti-Salazaristas.
O fascimo não vai votar, mas a liberdade alcançada tem de tolerar opiniões a favor de Salazar que evidentemente marcou a história de Portugal.( E que agora no túmulo ainda incomoda)
E não me falem em Tarrafal, a par de Fátima a igreja a par do medo ou a obscuridade.
Falem-me agora na liberdade democrática pós 25 de Abril que só tem revelado uma vergonha para este país de chico-espertos, de corruptos e oportunistas.
Falem-me neste país em que alguns responáveis politicos muito se preocupam a sacrificar o nivel de vida dos Portugueses a troco dos "poleiros" em Bruxelas ou nas Nações Unidas.
Salazar conduziu o país num obscurantismo mas tinha as suas convicções e não morreu rico, nem se aproveitou do poder.
E os senhores da liberdade que tanto sofreram certamente não pertencem à geração das centenas de milhares de desalojados das antigas colónias (Ou Provincias Ultramarinas ?) que viveram na pele essa exemplar descolonização feita á pressa onde não foram respeitados as minimas garantias de gerações de portugueses que gostariam de hoje não ter Portugal como cidadania.

mcp disse...

Caro anónimo:
Em primeiro lugar, não basta ter convicções para as legitimarmos – é preciso que estas sejam boas, se possível para um maior número de pessoas, numa lógica utilitarista. E as de salazar não se encaixavam nesta categoria.
Segundo, quando diz que Salazar não se aproveitou do poder, revela muita ingenuidade, ou profundo desconhecimento do modo como um ditador vive a sua fantasia hegemónica. O verdadeiro ditador, quando usurpa o poder, fá-lo pelo gozo do poder em si. E tendo em conta o alargado número de anos em que lá esteve, penso que fui suficientemente clara.
Em terceiro lugar, associo e sempre associarei a Igreja ao obscurantismo, pelo aproveitamento das necessidades emocionais, do sofrimento e da ignorância dos crentes que revelou, e revela!, durante tantos séculos. E condeno a forma como se colou ao regime por este lhe ser tão favorável, calando-se perante todas as formas de abuso de poder que este conduziu. Se a Igreja fosse uma instituição coerentemente voltada para a defesa da dignidade e da vida humanas, como gosta de proclamar, por que razão se calou perante os regimes fascistas europeus? Ou só interessava denunciar os de esquerda, como no velho bloco de leste? Estranhos pesos e medidas.
Quarto: há oportunistas do poder neste país, é verdade. Sempre os houve. Porque os portugueses não sabem o verdadeiro sentido civilizacional da democracia. Nunca tiveram contacto com ela, porque a censura os impediu sempre de se compararem com os restantes povos europeus. Votar é uma coisa: ser democrático é outra. E isso é algo que se aprende.
E quinto: o apressado e desajeitado processo de descolonização poderia ter sido levado a cabo de modo bem mais proveitoso para todas as partes se os velhos colonialistas não se tivessem agarrado durante tanto tempo à ideia obsoleta do “Portugal ultramarino”, recusando a independência a quem a ela tinha todo o direito. Ou não me diga que ainda é daqueles que sente saudades de ser servido pelo pretinho de luva branca?
Eu não tive a infelicidade de viver na pele o fascismo de Salazar, dado ser muito nova nessa altura. Mas vivi as experiências e os relatos de quem viu familiares serem arrastados para fora de suas casas a meio da noite, para nunca mais serem vistos, de quem sofreu torturas, de quem apanhou no pêlo por ter convicções. Ainda acha que tenho motivos para ser pró-salazar?...Só se não tivesse dois dedos de testa.

Anónimo disse...

Resposta a mcp

Cara mcp.
Não me interessa quem seja, embora deduza a sua juventude do seu texto.
Eu relutantemente mantenho o anonimato por considerar que apesar de se dizer que estamos em democracia e liberdade , já dei muitos “tiros nos pés” por dar a cara em situações onde é necessário mostrar a face.
Não podíamos fazer isso no tempo de Salazar e não devo fazer isso no momento actual. Exemplos não faltam. Veja-se as ferramentas das escutas telefónicas que hoje são triviais na caça aos corruptos , mas quem me garante até onde elas vão??.
A sua retórica não me impressiona nem me convence.
Você escreve por conhecimentos adquiridos de leitura, convivência e certamente uma apetência natural e fluidez de escrita. Eu respondo-lhe por um passado efectivamente vivido em África (tempo de Salazar ) no Continente (Salazar e pós Salazar).
Primeiro:
Os resultados da eleição de Salazar como o maior Português de sempre devem ter um significado. Colocando de parte uma fraude de votação , que seria apetecível ser provada pelos chamados “anti- fascistas” e que tem vergonha de serem portugueses,
conclui-se , aliás como várias opiniões que li e ouvi, que não é o desejo de rever o que o regime de Salazar tinha de mais negativo que moveu as pessoas a votar.
É um grito de revolta.
Nós como Portugueses somos um país de mansos. Só quando nos despem todos e nos pisam é que gritamos a nossa indignação.
Segundo:
Não concordo consigo justificando que o oportunismo é resultado da censura que os impediu de comparar com os restantes povos europeus.
Pura ingenuidade. . Nos seus restantes povos europeus também há corrupção e oportunismo e não precisamos de mais exemplos negativos.
O que nos falta mcp é educação. E educação não é só saber falar inglês e tecnologia como hoje nos querem impingir. Educação adquire-se por terceiros (sejam pais ou professores bem formados) enquanto somos miúdos e ao longo de toda a vida através da correcção dos nossos erros e atitudes e tendo como aferidor a nossa consciência.
E o que vejo hoje é que estamos na mão de alguns bem mal educados. Por isso se gritou votando em Salazar.
Terceiro:
Quanto à descolonização fique-se pelo que lhe contaram, pelos pretinhos que serviam o whisky com luvas brancas aos senhores colonialistas e faça um esforço por ouvir o lado dos silenciados como eu, que além de ter perdido o que eu os meus avós e pais semearam assisti a verdadeiras orgias de violações e mortes que fazem as vitimas do fascismo terem sofrido uma arranhadela. Quem pagou por isso ??
Cumprimentos e felicidades na sua vida

mcp disse...

Caro anónimo:
Lamento que a força da sua resposta se reduza a apontar a minha juventude como causa das convicções que tenho. Se eu seguisse o mesmo argumento ad hominem, diria que a sua idade já o impede de pensar claramente. Mas não o farei.
Não há dúvida que lhe faltam argumentos para redigir uma resposta mais inteligente.
Se lamenta a presente falta de liberdade de expressão, por que razão critica o meu blog, onde procuro defender exactamente essa mesma liberdade? Tiro no próprio pé que denuncia a falta de firmeza do que defende.
Se de facto viveu no velho regime, já deve ter idade suficiente para compreender melhor o que ele significou e descentrar-se do seu próprio umbigo para ver o outro lado da questão: as gerações que lhe seguiram merecem-lho.
E se as minhas convicções, que considera pueris, o incomodam tanto, porque volta insistentemente? Só posso concluir que o que escrevo lhe interessa, o que me apraz bastante.Tal como dizem os britânicos "we aim to please"..
Felicidades também para si, está a precisar. E obrigada pelo elogio à minha escrita. Volte sempre que desejar ler algo que o estimule intelectualmente.

PCS disse...

A mim o que mais me mete "nojo". É ver que ainda à Portugueses que desculpam o estado actual do país com A.O. Salazar. Para falar ou compreender o país de Salazar temos de compreender a História europeia da segunda metade do séc. XX. Parece-me que ainda há "gente" que não entende isso. Julgo que continuaremos a falar destas questões por muitos mais anos., até porque final somos tão inteligentes e contemporâneos como asnos e saudosistas, enfim somos todos "salazaristas".