quinta-feira, 31 de maio de 2007

Dignidade por um rim

Uma estação de televisão holandesa tornou a inovar no que toca ao mau gosto: um espectáculo de realidade onde é disputado um rim. Três candidatos, que em nome da saúde, abdicaram há muito da sua dignidade, degladiam-se perante as audiências para conseguirem um rim de uma paciente terminal. O critério de atribuição ficará assente na popularidade ou capacidade de comover as audiências.
Alegam os responsáveis da estação de televisão visada que o programa se destina a alertar as pessoas para a gravidade da situação de milhares de pessoas que anualmente morrem em consequência de não receberem um transplante de órgão em falta.
Penso que independentemente da boa intenção alegada, resta uma questão ética: até que ponto é legítima a utilização do sofrimento alheio para o share televisivo? Se de facto a falta de órgãos comove os responsáveis pela estação de televisão, por que razão não se limitaram a expor o problema através de uma reportagem séria? Porquê elaborar um programa de franco mau gosto onde se vislumbra o desespero de quem vê a vida escapar-lhe por entre os dedos a cada dia que passa, e precisa de se sujeitar a esta exposição pública? E o critério de doação? A quantidade de SMS recebida? Quantos SMS valem uma vida?...

4 comentários:

Rui Areal disse...

Julgo que hoje foi divulgado que se tratou de um embuste! Foi um golpe para chamar a atenção para a escassez de doadores!!! Ou terá sido uma saída airosa? Parece-me que o programa era tão destituído de sentido ético que só podia mesmo ser uma piada... mas vindo da terra da endemol... não digo nada, não....

SL disse...

a chamada de atenç
ao para a escassez de dadores não passa da descupa racional e socialmente aceitável para justificar a merda que a endemol e outros semelhantes lançam para o ar. Tudo em nome do lucro: vale tudo, inclusivé leiloar rins. Alguém me arranja aí um concurso onde se ofereçam dois olhos de um não-pitosga?

mcp disse...

Parece que não passou tudo de um engodo televisivo, mas que não deixou de roçar o mau gosto a que a Endemol já nos habituou. Engodo ou não, fere susceptibilidades e continuo a defender que haveria modos mais sérios de abordar a questão.

Luís disse...

sou doente crónico renal (doença autosomática dominante dos rins poliquísticos). Tenho muitos quistos e os meus rins já têm o dobro do tamanho. Certamente gostaria de arranjar uma solução para o problema da insuficiência renal com que, mais tarde ou mais cedo, me depararei.

Só não pensei que existissem pessoas (neste caso da TV Holandesa, ao que parece) sem o mínimo de humanidade e respeito pela condição humana com que cada um nasce ou adquire. É triste saber disto.

Certamente são pessoas que não têm que lidar todos os dias com esta realidade e ver os seus pais sofrerem por isso.

A TV podia ajudar sem enchuvalhar as pessoas ...

É por este e por outros motivos que eu cada vez tenho pior impressão de alguma comunicação social, que só se preocupa com audiências a qualquer preço ... e que não se preocupam minimamente em formar os nosso jovens ... enfim ...