segunda-feira, 9 de maio de 2005

Diz-me o que exiges, dir-te-ei quem és!

No Jornal de Notícias de hoje vem uma reportagem sobre as condições de higiene do mercado de Espinho e é curioso analisar a postura do português comum perante aquilo que já todos deveríamos considerar como um dado adquirido no mundo civilizado: a higiene.
Quem já efectuou compras num mercado ao ar livre, já deve ter reparado que muitos dos alimentos frescos se encontram a descoberto, sobre bancadas em caminhos de terra, à mercê dos elementos. Salvo algumas excepções de comerciantes mais rigorosos, a maioria não tem qualquer cuidado com o manuseamento dos víveres.
Nessa reportagem levanta-se a questão aos feirantes sobre os cuidados a ter na preservação dos alimentos, por uma simples questão de higiene. Estes retorquem que sempre assim foi e o mais importante é não espantar o cliente. Além disso, nunca morreu ninguém por esta falta de cuidados, logo porquê mudar?
Mas se este ponto de vista ignorante até se compreende por parte de quem quer vender, não se compreende por parte de quem quer comprar e deve sempre exigir o melhor. Um consumidor abeirou-se da equipa de reportagem e disse esta pérola: "O que não mata, engorda!".
Permiram-me discordar: às vezes o que não mata, emagrece ou enfraquece. Uma constipação, uma doença venérea, uma perna partida, uma brucelose podem não matar mas certamente não engordam e muito menos fortalecem. A falta de higiene muito menos.
Nestes mercados, há de facto alimentos expostos a todo o tipo de elementos: pó, secrecções salivares e outras de que prefiro não me lembrar, sendo manipulados com frequência com as mesmas mãos descobertas que acabaram de fazer o troco ao cliente anterior. O pão e doçaria são exemplos flagrantes disso. Os cremes à base de ovos à temperatura ambiente são terreno propício para o desenvolvimento de salmonelas, responsáveis por muitos distúrbios digestivos. Mas o português pouco habituado a ser cuidadoso com os seus direitos e a sua saúde é pouco exigente e tudo lhe serve.
Quando uma praia é interdita ao público porque foram detectados coliformes ou outros microorganismos perigosos para a saúde, é ver o povo revoltado porque lhe estão a tirar aquilo a que tem direito: uma boa intoxicação ou doença cutânea.
"Eu sempre vim a esta praia e nunca vi nada!" ou então "Vim aqui assim ver e não vi nada, a praia está limpa como sempre!", são afirmações ignorantes e perigosas, em especial quando arrastam crianças incapazes de se defender quer dos microorganismos, quer dos incapazes dos progenitores. Qual deles o mais perigoso....
A saúde pública é um item que pouco preocupa os portugueses. É só ver a quantidade deles que não lavam as mãos após uma ida à casa de banho...pública. E depois são as mesmas a quem vamos apertar a mão num acto social..
Muitos problemas sanitários estariam resolvidos se as pessoas se habituassem a lavar as mãos depois das idas aos lavabos ou antes de comerem algo. Mas tal não acontece.
A postura tipicamente lusa de que "o que não mata engorda" não só é perigosa como traduz a tipica postura que nos caracteriza em muitas das coisas que fazemos: o deixa andar.
Exigir mais higiene é exigir mais saúde. Exigir mais saúde é o que define a qualidade de vida. E isto tem de passar por todos. Se não para nós, pelo menos para os nossos filhos, que herdarão os nossos hábitos e as nossas vicissitudes, se não tivermos uma visão de futuro.

1 comentário:

Anónimo disse...

o que não mata engorda, mes a ser isto verdade quem nos garante que não mata?
o povo é mesmo estúpido. Será que quem diz isto antes de engolir uma boa folha de alface adquirida nessas condições indignas não pensa na hipótese A: MORRER, e só pensa na B: ENGORDAR?